quinta-feira, 5 de março de 2020

Penso, logo audito!

Por: Wendel Fialho de Abreu*


À medida que a Auditoria Interna reorganiza-se frente aos novos requisitos e perspectivas futuristas, o pensamento crítico passa a ser cada vez mais importante para o desempenho e continuidade profissional. Pensar criticamente não é novidade para auditores internos, porém nem todos conseguem dominar e estruturar essa habilidade de forma produtiva. 

Em uma perspectiva simplificada, pensar de maneira crítica traduz-se em pensar claro, fundo e largo, por isso entender que o primeiro pensamento nunca é o pensamento crítico pode fazer toda a diferença. O primeiro pensamento que vem à mente tem mais a ver com hábitos, valores, mentalidade e contexto momentâneo que permeiam o indivíduo ou a organização, enquanto os pensamentos seguintes decorrem do treino da capacidade analítica. 

No centro do pensamento crítico estão as informações, que são vitais para o trabalho da Auditoria Interna, ainda que seja comum que auditores gerem grandes volumes de dados e evidências sem conseguir extrair significado deles. Esse dilema agravou-se com a consolidação de tecnologias como robótica e inteligência artificial, que ampliaram exponencialmente a capacidade de coleta e análise de dados, acentuando o nível de exigência na profissão.

Nesse cenário, há quem acredite que o fim da Auditoria está próximo e há quem espere uma revolução na carreira. O certo é que a necessidade dos auditores internos entenderem e aplicarem o pensamento crítico parece evidente, principalmente partindo do princípio que tarefas estritamente operacionais e binárias (como determinar se algo está certo ou errado e conforme ou inconforme) serão em breve desempenhadas por tecnologias emergentes. 

Também não convém continuar concentrando a força de trabalho das equipes de auditoria em atividades de proteção de ativos e trabalhos de avaliação “assurance”, justamente por se tratar do viés mais propenso à automatização. Logo, esse modelo de atuação precisará de menos profissionais e os que continuarem a desenvolver atividades tradicionais de auditoria necessitarão oferecer conclusões muito mais interessantes – o que só será possível mediante compreensão sistêmica do ambiente de negócio e exercício de raciocínio crítico. 

Para fazer frente aos desafios atuais e futuros, o perfil profissional que levará a Auditoria Interna adiante foca em resultados, e não em obstáculos, assim como respeita a premissa de não dar respostas, mas sim de abrir caminhos para se resolver um determinado problema. Verdadeiros pensadores críticos são essenciais para a profissão porque naturalmente esquivam-se de conclusões óbvias e gozam de alta performance no estudo de problemas. 

Observe que o auditor não pode mais deter-se a encontrar fragilidades, tampouco se orgulhar de detectar valores perdidos pela organização. Essa postura passiva de registrar e reportar está defasada. Espera-se que o auditor interno seja capaz de utilizar todas as informações e conhecimento acumulados para entregar valor às partes interessadas e assegurar o efetivo funcionamento da governança corporativa, da gestão de riscos e dos controles internos. 

Isso requer olhar crítico inclusive sobre as bases da profissão para que fique claro que o processo de auditoria disciplinado não deve ser rígido, que ser sistemático não é o mesmo que ser repetitivo e cansativo e que objetividade e independência não são refúgios para o auditor se esconder de problemas e situações complexas relevantes para a organização. 

Essa jornada reflexiva deve alcançar rotinas e práticas tidas como consolidadas para que seja possível redesenhar a profissão. Para tanto, convém estudar outras áreas do conhecimento em busca de soluções não mais encontradas no campo coberto pela Auditoria Interna. Nesse sentido, é salutar, ainda, reavaliar o uso de termos obsoletos que persistem em diversas organizações, como: auditado, achados, apontamentos, recomendações, etc. 

Promover os avanços que a carreira precisa e repensar a postura dos profissionais em tempo hábil são oportunidades que exigem mudança de mentalidade e criatividade. Portadores de inteligência crítica podem colaborar consideravelmente com esse processo desde que tenham ambiente seguro para desafiar padrões, experimentar e materializar ideias inovadoras ainda que inicialmente contrariem o senso comum e causem insatisfação em parte dos profissionais. 

Por fim, aqui vão algumas sugestões para exercitar o pensamento crítico no seu cotidiano: 

• Nunca faça inferências com base nos seus primeiros pensamentos; 

• Exercite a fórmula “atenção, memória e ação” até que isso lhe seja algo natural; 

• Avalie o quanto seus sentimentos impactam nos pensamentos; 

• Reserve um tempo para pensar durante suas atividades e no decorrer dos trabalhos; 

• Não transforme padrões e rotinas em religião; 

• Exercite os “cinco porquês” em seus pensamentos; 

• Nunca diga que alguma pessoa está errada, pergunte como ela chegou a essa conclusão; 

• Não aplique as mesmas soluções para problemas ou momentos diferentes.

* Wendel Fialho é auditor do Banco da Amazônia e um dos idealizadores do perfil @somosauditores no Instagram 

Fonte: AI Magazine - Ed. 15 - Jan 2020 (https://iiabrasil.org.br//noticia/ai-magazine-ed.-15-jan-2020)

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