sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O uso da inteligência artificial no combate à corrupção.


Artigo publicado por Thiago Marzagão, cientista de dados e PhD pela Ohio State University, aponta como a inteligência artificial (IA) já está ajudando os órgãos públicos brasileiros no combate à corrupção. “Ainda há muito por fazer. Mas mesmo com obstáculos, o potencial de IA é imenso na administração pública”, afirma.
 
O texto de Marzagão explica que o uso de IA faz parte do nosso cotidiano há algum tempo: a humanidade já se habituou a tradutores automáticos (como o Google Translate) e a assistentes virtuais (como Siri e Cortana), por exemplo. A mesma lógica vem sendo usada no combate à corrupção.
 
O funcionamento é o mesmo na maioria dos casos em que a inteligência artificial é utilizada: o algoritmo é “alimentado” com casos passados e com isso o algoritmo “aprende” a prever ou classificar casos novos.
 
A base de dados de um grande banco qualquer, por exemplo, contém dados sobre cada compra no cartão de crédito de cada cliente: data, horário, local, valor e se a compra foi identificada como fraudulenta (digamos, com base em reclamação do cliente). Quando o banco submete essa base a um algoritmo de IA, o algoritmo identifica os padrões e regularidades mais comumente associados às compras fraudulentas: horário, local, valor e quaisquer outras informações que existam na base. Uma vez alimentado (no jargão da inteligência artificial diz-se “treinado”), o algoritmo pode ser usado para identificar se novas compras são ou não fraudulentas.
 
Marzagão deu alguns exemplos da utilização de IA na administração pública no Brasil. O Cadastro de Expulsões da Administração Federal (CEAF), por exemplo, contém dados sobre servidores punidos com perda do cargo. Já a Receita Federal tem usado IA para detectar exportações fictícias e pedidos fraudulentos de compensação tributária – o que, numa análise inicial, pode gerar R$ 16 bilhões de arrecadação em multas e recolhimento de tributos devidos.
 
O Banco do Brasil, por sua vez, tem usado IA para análise de crédito. O Ministério do Planejamento utiliza IA para identificar fraudes na folha de pagamentos do funcionalismo. A lista não se restringe ao Executivo federal: Legislativo e Judiciário, bem como órgãos estaduais e municipais, também têm explorado o potencial de IA.
 
Marzagão destaca que ainda há muito por fazer. “O concurso público privilegia candidatos capazes de memorizar leis e regimentos internos; apenas acidentalmente selecionam-se candidatos capazes de usar ferramentas de IA”, explica o especialista em dados.
 
Para o cientista de dados é preciso recrutar melhor e, ao mesmo tempo, capacitar os já recrutados para que possam tirar proveito dessas ferramentas. De acordo com ele, é necessário, ainda, facilitar a troca de dados entre diferentes órgãos e eliminar retrabalho (hoje diferentes órgãos gastam um tempo enorme limpando e carregando as mesmas bases).
 
“O gasto do governo federal em 2016 será de aproximadamente R$ 3 trilhões. Parte desse dinheiro irá parar nos bolsos de corruptos, como resultado de compras superfaturadas, venda de favores e outros crimes. É impossível fiscalizar centavo por centavo: são centenas de milhares de compras públicas, pagamentos de salários e repasses a ONGs. É possível, porém, automatizar o processo com o uso de inteligência artificial”, conclui o especialista.
 
Fonte: Organização Contas Abertas (www.contasabertas.com.br)

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